Pedro Valle: ‘O Crescimento Desordenado Pode Levar ao Destombamento de Brasília’
Por: Menezes y Morais
A construção do Setor Noroeste, em Brasília (DF), não respeita nem o Santuário dos Pajés, 50 famílias que vivem no local antes da inauguração da cidade.
O escritor, professor e jornalista mato-grossense Pedro Valle, 82 anos, que escolheu Brasília para viver, continua preocupado com o tombamento de Brasília (DF) como patrimônio cultural da humanidade. Por isto ele critica, de forma veemente, a criação de novos bairros, como o Noroeste, encravado no Plano Piloto, por duas razões.
Primeira, a densidade populacional e sua consequente demanda automotiva. Segunda razão, isto acarretará a degradação na qualidade de vida da comunidade como um todo, além do aumento da poluição e de outros problemas urbanos.
Destombamento
Pedro Valle recorda: “Em 2004, reuniram-se na Câmara dos Deputados quatro senadores, 24 deputados federais, outros estaduais e distritais, representantes do Instituto de Arquiteto do Brasil, do IPHAN, e de outras entidades, era a segunda vez, em cinco anos, que se tentava reverter as situação de desrespeito a Brasília pela dimensão política”.
Os Pajés estão recebendo a solidariedade da sociedade, para barrar a construção do Setor Noroeste, vendido pela publicidade como um "bairro ecológico".
“Como disse o senhor Márcio Viana – acrescentou –, representante do IPHN – Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, naquela reunião, impedir o inchaço de Brasília requer um ato político ou então o futuro da cidade estará comprometido.”
– O arquiteto Carlos Guimarães, pioneiro e representante de Oscar Niemeyer em Brasília, fulminou: ‘Todos os que criaram esse movimento já estiveram no governo de alguma maneia e foram incapazes de evitar o desrespeito ao tombamento. Não dá para fazer, não temos via para comportar mais um setor como este, o Noroeste’.
Pedro Vale recorda que o bairro do Sudoeste “Era pra ser a metade do que é. E como se isto não bastasse, agora aparece o Setor Noroeste, duas outras autoridades se manifestaram: Alexandre Rescke, secretário do Patrimônio da União, e Aldo Paviane, geógrafo da UnB – Universidade de Brasília”.
Brasília não suporta a construção de um novo bairro como o Noroeste, diz Pedro Valle, sem comprometor a qualidade de vida da sociedade.
Crescimento impraticável
A primeira dessas autoridades, acrescentou, disse: “Entendemos que o GDF – Governo do Distrito Federal não suporta mais assentamento. O crescimento horizontal é impraticável se a cidade quiser se tornar auto-sustentável”.
“O segundo disse: na velocidade em que está o crescimento desordenado, daqui a alguns anos o GDF será inadministrável”.
Na opinião de Pedro Vale, o Setor Noroeste “vai jogar no Plano Piloto, no mínimo, 40 mil novos automóveis, um por morador. Ninguém sabe afirmar onde esses automóveis vão estacionar. É um jogo dos políticos, em parceria com a indústria imobiliária, para asfixiar o Plano Piloto e assim levar a população a pedir o seu destombamento”.
Intervenção federal
Além do problema do crescimento desordenado de Brasília, Pedro Valle chama atenção para outro fato: as gangues partidárias que o Poder Judiciário está desmantelando no DF, ao desarticular, pela ação da Polícia Federal, o mensalão do Partido Democrata (DEM), que era chefiado pelo ex-governador José Roberto Arruda.
Existe no STF – Supremo Tribunal Federal – lembrou – um pedido de intervenção federal em Brasília, em função dessa roubalheira que a imprensa continua noticiando.
Tocantins, os recursos naturais não são mais os mesmos depois que o Estado foi criado.
“O mesmo já aconteceu no que se refere ao Estado de Rondônia. Em 2006, o então governador daquele Estado gravou uma tentativa de chantagem dos deputados estaduais que queriam uma contribuição mensal de R$ 50 mil para cada um. Dos 24 deputados estaduais daquele Estado apenas um não integrava a quadrilha existente na Assembléia Legislativa.”
Aqui, Pedro Valle fala do objeto de pesquisa que transformou no livro A Criação de Novos Estados – Verdade e Mito, publicado pela Thesaurus.
“Os políticos dizem que para desenvolver o Brasil é preciso criar novos Estados. Este é o mito. A verdade está aqui – diz, apontado para o livro –. Os fatos estão aqui. Por que escrevi? Para despertar a população do Brasil e de Brasília da maneira como vive na atitude indolente de apenas cuidar da própria vida.”
Mapa do Estado de Mato Grosso
Novos Estados
A criação de novos Estados, acrescentou, “partiu da atitude do ditador Geisel de dividr Mato Grosso e criar Mato Grosso do Sul. Esse ato caiu como um manjar para os políticos, que criaram, então, o MPST – Movimento dos Políticos Sem-Tetas, a partir daí foram criados os estados de Rondônia, Tocantins, Amapá, Roraima, Mato grosso do Sul e decretada a autonomia de Brasília (DF).”
“Até a Constituição de 1946 – acrescentou – cada Território Federal tinha direito a eleger apenas um deputado federal. Com a Constituição de 1988, e algumas outras leis, o País viu multiplicar-se por três as vagas de senadores, estando hoje com 18 vagas. Multiplicou também o número de deputados federais para 48 e dos deputados estaduais para 192.”
Além das sinecuras de mais seis tribunais de contas. Nada melhor para os políticos. Os EUA – Estados Unidos da
Visão do Pantanal, no Mato Grosso do Sul.
América, onde o Brasil foi se inspirar, para organizar o regime Republicano, com adoção do Federalismo e da representação popular, para escrever a Constituição de 1891, mas a inspiração recolhida dos norte-americanos ficou por aí.
Os EUA, lembra Pedro Valle, hoje elegem dois senadores por Estado com mandato de seis anos e 435 deputados federais, enquanto o Brasil elege três senadores por Estado, com mandato de oito anos e 513 deputados federais, com mandato de quatro anos.
Produto Interno Bruto
Enquanto o PIB – Produto Interno Bruto dos EUA é de US$ 13 bilhões, 250 milhões de dólares, a renda per capta de 44 mil e 93 dólares, o Brasil tem um PIB de R$ 2,5 trilhões de reais e renda per capta de 12 mil e 500 reais.
“Está tramitando no Senado uma emenda do senador Álvaro Dias (PSBD-PR) propondo a redução pela metade do número de deputados federais e estaduais. O pioneiro Ernesto Silva escreveu: ‘A autonomia de Brasília foi uma desgraça’ e o jornalista Paulo Manhans, também pioneiro, escreveu: ‘os governos e a Câmara \legislativa do DF estão destruindo Brasília’. Tais declarações foram feitas anos atrás”.
E acrescentou: “O senador Amir Lando (PMDB), então representante de Rondônia no Senado, chegou a pedir intervenção federal no seu Estado, o que não prosperou. Vejamos se desta vez o STF decidirá pela medida drástica para Brasília”.
Novo livro
Pedro Valle está escrevendo um novo livro. “Ainda não tem título, nele, pretendo mostrar como o Planeta Terra ainda
Capa do livro de Pedro Valle, onde ele questiona a criação de novos Estados no Brasil.
sobrevive diante de tanta loucura humana”, diz ele, referindo-se às agressões à Natureza provocadas pela ação humana, em nome do lucro.
Pedro Valle é mato-grossense de Miranda, onde nasceu em 1928. É jornalista profissional. Diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato-Grosso, em Cuiabá.
Exerceu, entre outros, os cargos no Serviço Público Estadual: professor de português, francês e Organização Política e Social do Brasil, Secretário de Estado nos Governos Fernando Correa da Costa (1962-1965), Pedro Pedrossian (1966-1968) e Cássio Leite de Barros (Chefe da Casa Civil, 1977- 1978),
Apresentou teses em diversos Congressos Nacionais de Direito Tributário, é co-autor do Código Tributário de Mato Grosso.
É membro honorário do Instituto de Direito Tributário
da Faculdade de Direito das Faculdades Católicas de Campo Grande (MS).
Menezes y Morais, por Ivaldo Cavalcante.
Aposentou-se n o Serviço Público em 1986. De sua autoria, a Thesaurus também publicou
Os Caminhos por onde eu passei (memórias), editado em 2005.
* Menezes y Morais é jornalista, professor,
escritor, historiador e editor da
Nós – Fora dos Eixos.
Serviço
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